Da passarela ao espelho: o que te representa?
- Isabel Debatin
- há 3 dias
- 2 min de leitura
Dá pra se sentir na moda sem entender de moda? A resposta é sim. E talvez seja justamente isso que a gente precise lembrar: que a moda não é um clube fechado, com senha e manual. Ela é um reflexo do tempo — e também, curiosamente, um espelho do passado.
A moda é cíclica. De tempos em tempos, ela se reinventa, mas sempre com um pé no que já foi. O que antes era considerado “cafona” ou “impensável” volta a ser tendência. A calça de cintura baixa, por exemplo — ícone dos anos 2000, odiada por muitos na década seguinte — ressurgiu nas passarelas e nos closets com força total. Assim como as wide leg, as mom jeans, os tamancos, as Melissas e tantas outras peças que carregam um quê de nostalgia.
Prada 1991 | Prada 1999 | Givenchy 2000 | Prada 2003
Essas voltas revelam um segredo importante: estar na moda não é estar sempre à frente. Muitas vezes, é apenas reconhecer os ciclos e escolher, dentro deles, o que faz sentido pra você.
Prada 2018 | Givenchy 2020 | Prada 2020 | Givenchy 2023
Mas nos últimos anos, um novo ciclo vem chamando atenção — não tanto pelas roupas em si, mas pelo que elas representam. O fenômeno do “estilo de rica”, popularizado por influenciadoras como Bianca Camargo, mostra que hoje o vestir-se não está só relacionado a gosto pessoal ou estética, mas também à imagem de sucesso financeiro. Vídeos sobre “como parecer rica”, “como montar um look elegante com aparência milionária” viralizam com facilidade.
E isso levanta uma pergunta incômoda: por que queremos tanto parecer ricos ao nos vestirmos?
A crítica aqui não é ao consumo de itens de luxo, mas ao fato de que muitos dos conteúdos que chegam até nós criam uma relação quase obrigatória entre estilo e poder aquisitivo. Como se carregar uma bolsa de R$10 mil fosse um atestado de bom gosto. Como se usar uma peça de grife fosse sinônimo de pertencer à moda. Quando, na verdade, isso pode dizer mais sobre status do que sobre identidade.
É aí que entra a diferença fundamental entre moda e estilo.
Moda é contexto. É comportamento coletivo, tendência, crítica social. É uma forma de a sociedade se expressar. Já o estilo é individual. É o que você gosta, o que te representa, o que se encaixa na sua rotina — e não no feed alheio. Estilo não tem a ver com saber o nome de todos os tecidos ou comentar o desfile da Balenciaga, da Prada ou da Gucci. Estilo tem a ver com se sentir bem no que se veste, com reconhecer um pedaço de você naquele look.
E sim, dá pra gostar de moda sem ser especialista. Dá pra acompanhar tendências sem se render a todas. Dá pra admirar o que está nas vitrines sem esquecer do que já está no seu armário. Dá pra se sentir na moda mesmo sem seguir a moda.
Porque no fim das contas, estilo não é sobre se encaixar. É sobre se expressar.
Um abraço carinhoso,
Isabel Debatin
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