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Do sapato ao shampoo: o que compramos realmente nos representa?

  • Foto do escritor: Isabel Debatin
    Isabel Debatin
  • 27 de mar.
  • 3 min de leitura
Consumido, obra de Eduardo Cambuí Junior
Consumido, obra de Eduardo Cambuí Junior

Tem coisa que a gente compra porque precisa. Tem coisa que a gente compra porque quer. E coisa que a gente compra porque todo mundo está comprando. Do sapato que machuca o pé, ao shampoo de R$ 80 que promete milagres, muitas das nossas decisões de consumo não têm nada a ver com a nossa vida real — e tudo a ver com o que a gente vê na vida dos outros.


Desde sempre, a publicidade nos fez acreditar que a vida poderia ser mais prática, mais bonita e mais feliz se tivéssemos determinados produtos. Quando eu era criança, as propagandas de brinquedo e comida tomavam conta da TV. Hoje, a propaganda continua, mas em forma de histórias, vídeos curtos e públicos em que as pessoas mostram a rotina real e o que faz sentido pra elas (muitas vezes com publis embutidas nelas).


O que mudou foi o formato — o impacto continua o mesmo, talvez até maior.


Consumimos mais conteúdo do que nunca. E dentro desses conteúdos, há promessas: cupons de desconto, produtos "essenciais" e aquele jeitinho de viver que parece resolver todos os nossos problemas. E é aí que mora o perigo: consumimos sem perceber que estamos sendo influenciados a comprar, usar e desejar coisas que talvez nem façam sentido pra gente.


A Bússola do Hype


A influência das redes sociais é tão grande que 73% dos brasileiros já assumiram ter comprado algo por influência de conteúdos que viram online, segundo um estudo da agência de comunicação MARCO. Isso não acontece só com adolescentes ou jovens: é um comportamento transversal. A tendência do momento vira referência de consumo — e a sensação de pertencimento a um grupo faz com que a gente deseje aquele produto, mesmo que ele não se encaixe em nossa rotina.


Se um influenciador que você ama está usando aquele tênis, é provável que você deseje aquele mesmo tênis. Porque você não quer só o sapato — você quer o estilo de vida que vem junto com ele. O que a gente compra hoje carrega mais do que função: carrega simbologia, identidade, status, desejo e até uma personalidade que, muitas vezes, não é nossa.



Crédito: Reprodução @livia, @leleburnier e @manuelacit


Será que isso é mesmo sobre mim?


A verdade é que muitas pessoas falam quem é por meio daquilo que consomem. Mas muitas outras estão apenas copiando. E o problema é que, ao copiar demais, a gente pode se perder. A internet mudou tendências em estilos de vida. Pessoas como Lívia Marques, por exemplo, têm um jeito único de se vestir e de se apresentar. E é aí que muita gente tenta se moldar a um estilo que admira, mas que talvez não se conecte com sua essência.


Nem tudo que é bonito nos outros cabe em nós. Não é incomum ver alguém trocando sua identidade por uma vitrine — física ou digital. E isso tem consequências: frustração, cansaço, insatisfação com a própria imagem. Um guarda-roupa cheio de peças que não fazem sentido, uma penteadeira repleta de produtos que só duraram uma semana.


Quando o consumo não combina com a vida real


Já comprou um sapato lindo que deixou você com bolhas? Já montou uma rotina de cuidados com a pele com 10 passos que duraram quatro dias? Já comprou algo só porque estava na moda — e depois descobriu que aquilo não tinha nada a ver com você?


Todo mundo já passou por isso. Mas quando isso se torna constante, é preciso parar e refletir: será que estou tentando viver uma vida que não é minha? Será que estou tentando caber em um padrão que nem gosto tanto assim? A moda é cíclica. O hype é efêmero. O consumo sem consciência é um buraco sem fim.


Escolhas com intenção: o verdadeiro luxo


O luxo verdadeiro não está em ter tudo. Está em saber escolher. Em entender o que faz sentido com o seu corpo, a sua rotina, o seu estilo de vida. Em olhar pra dentro e descobrir que talvez você nem goste tanto assim de maquiagem mate, de calça cargo ou da nova sapatilha do momento. Criar uma curadoria pessoal é sobre isso: saber o que você gosta, o que não gosta, e o que realmente você representa. É consumir com intenção — e não por impulso. É se permitir mudar, sim, mas por escolha e não por pressão.


Na próxima vez que você sentir vontade de comprar algo que "todo mundo está usando", pergunte-se: Isso é pra mim? Isso faz sentido com a minha rotina? Como é meu estilo? Com quem eu sou — ou com quem eu estou tentando ser?


Uma vida autêntica é sempre mais leve do que uma vida performada. E talvez, no fim das contas, o que mais chame atenção seja justamente aquilo que só você tem: você mesma.




Um abraço carinhoso,

Isabel Debatin

 
 
 

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