Páscoa: o que ainda ressuscita em nós
- Isabel Debatin
- 20 de abr.
- 3 min de leitura

Domingo de Páscoa. Dia de celebrar a vida, a vitória da luz sobre a escuridão. Hoje, mais do que nunca, é dia de lembrar que o amor venceu. E ainda vence.
Num mundo onde tudo corre, muda, vira tendência e se esgota em segundos, parar para refletir sobre o verdadeiro significado da Páscoa parece quase um ato de resistência. Mas é um ato necessário.
Eu cresci num lar católico. Fui criada com fé. Daquelas que ensinam a rezar antes de dormir, a agradecer antes de pedir. E mesmo que eu não vá à missa todo domingo, essa fé segue aqui. Silenciosa às vezes, mas viva. E a cada Páscoa, ela se renova.
Nos últimos anos, tenho percebido algo diferente acontecendo. Enquanto, quatro anos atrás, muita gente passou a falar sobre espiritualidade de forma mais ampla, menos institucional, atualmente, tem crescido uma vontade de voltar às raízes. De olhar para a religião — com mais profundidade.
Um exemplo disso é o movimento que aconteceu guiado por Frei Gilson. Suas lives durante a quaresma de 2025 ultrapassaram milhões de visualizações. Transmissões que acontecem de madrugada e reúnem milhares de jovens em oração. Isso não é pouco. Isso diz muito.
Muita gente que me cerca fez penitência nesse período. Escolheu silenciar, jejuar, refletir. Não por obrigação, mas por desejo. Desejo de reencontro. De saciar uma sede que o mundo lá fora não tem dado conta de matar.
Essa reconexão também aparece nos detalhes. Tenho uma amiga que publicou, durante toda a Semana Santa, o significado de cada dia litúrgico: da Segunda-feira Santa ao Domingo de Páscoa. Uma forma de viver a fé, dia após dia, e também de inspirar outros a fazer o mesmo.
E foi nesse desejo de ouvir outras vivências que convidei duas amigas queridas a compartilharem como têm experimentado a fé católica hoje. Cada uma de um jeito muito diferente — mas igualmente bonito.
A Tálita é daquelas pessoas que vivem a fé desde sempre. Já foi coroinha, catequista, participou de missões, tocava na missa, esteve em retiros, ajudou a reformar centros catequéticos e organizou Páscoas em comunidades carentes. Quando perguntei o que significava, para ela, essa caminhada, ela respondeu assim:
“A fé, pra mim, é como uma relação. Primeiro vem a paixão — que vivi na adolescência com intensidade — e depois vem o amor. E o amor é escolha, é disciplina, é intenção.”
Hoje, mesmo com uma rotina agitada, ela escolhe ir à missa todos os domingos. “Viver a fé não é difícil. Difícil é escolher todos os dias refletir Cristo nas atitudes. Mas quando a gente faz isso, qualquer fardo fica mais leve.”
Ela também levanta uma crítica importante: muitos católicos têm um conhecimento raso da própria fé. “Vejo pessoas buscando práticas em outras religiões que já existem na nossa, como a Lectio Divina. A Igreja tem ritos lindos, profundos, mas às vezes falta curiosidade e aprofundamento.”
Depois de um grave acidente, ela passou por momentos difíceis de questionamento e dor. “Tive raiva de Deus, parei de rezar. Depois voltei. Porque no fim das contas, se com Deus já foi difícil… sem Ele teria sido impossível.”
Já a Paula viveu um caminho diferente. Batizada na Igreja Católica e criada em um ambiente de fé moderada, por muito tempo esteve afastada da prática religiosa. Em 2018, após seu avô sofrer um AVC, ela voltou a rezar. Mas ao receber o diagnóstico de que ele não se recuperaria, sentiu raiva de Deus e se desconectou novamente.
“Aos poucos entendi que a fé pede entrega e confiança, mesmo quando a gente não entende os motivos. Foi ali que comecei a confiar nos planos Dele.”
Com o tempo e o amadurecimento, ela percebeu que concordava com muitos ensinamentos da Igreja. E em 2025, ao se mudar para um apartamento com vista para uma igreja, algo despertou:
“Eu via as pessoas indo à missa e senti vontade de tentar de novo. Mas dessa vez não por obrigação, e sim por escolha.”
Desde então, tem frequentado as missas aos sábados e vivido uma experiência transformadora. “A fé tem me tornado mais empática, mais amorosa, menos julgadora. O mandamento mais difícil é aquele que a gente esquece nas pequenas atitudes: amai-vos uns aos outros como Eu vos amei.”
Essas histórias me tocam porque mostram que a fé não tem um formato único. Ela pode ser vivida com intensidade, com silêncio, com reencontros, com dúvidas, com amadurecimento. A fé não exige perfeição — exige presença.
Hoje, eu escolho celebrar essa Páscoa com consciência. Com fé. Com alegria. Não só pelo chocolate (que a gente ama, sim), mas por algo maior. Algo que pulsa por dentro. Que me lembra que, mesmo nos dias difíceis, há sempre uma chance de recomeçar. Sempre.
Porque a ressurreição não foi só de Cristo. É a nossa também. A cada vez que a gente escolhe amar, perdoar, recomeçar — a gente também ressuscita.
Um abraço carinhoso e uma feliz Páscoa,
Isabel Debatin
Comments